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Férias: A Angústia do Tempo Livre

  • Foto do escritor:  Eric Rudhiery Albuquerque
    Eric Rudhiery Albuquerque
  • 2 de jul.
  • 2 min de leitura

Julho chegou, e com ele vieram as tão esperadas férias. Escolas fechadas, algumas empresas entrando em ritmo mais lento, famílias planejando viagens ou, no mínimo, tentando dormir um pouco mais tarde. Tudo indica que agora seria a hora de descansar. E ainda assim, algo incomoda. Muita gente não consegue aproveitar. O tempo livre, antes tão desejado, parece esvaziado de sentido. O descanso, antes visto como alívio, agora se mostra incômodo. A pergunta que fica é: por que, mesmo nas férias, ainda estamos cansados?

Essa matéria nasceu de uma conversa comum, dessas de fim de expediente, quando alguém comentou: “mal começaram as férias e já estou entediado”. O que era para ser leve virou angústia. Me lembrei de um nome importante na história da psicologia e da filosofia existencial: Viktor Frankl. Para quem não conhece, ele foi um psiquiatra austríaco, fundador da Logoterapia e sobrevivente de campos de concentração nazistas. É autor de um dos livros mais lidos do século XX, “Em busca de sentido”.


Frankl dizia que o maior vazio do ser humano moderno não era a dor, mas a falta de sentido. A ausência de propósito adoece mais do que o sofrimento em si. E é exatamente esse o problema das férias: quando o ritmo externo desacelera, somos forçados a escutar o barulho interno. E o que ouvimos muitas vezes é silêncio — um silêncio ensurdecedor.


Nas rotinas cheias, o trabalho, o estudo, as obrigações, tudo nos mantém ocupados demais para pensar. Mas quando tudo para, sobra só você. E nem todo mundo sabe conviver consigo mesmo. Por isso tantos precisam de séries, redes sociais, viagens, qualquer estímulo externo para não ficarem sozinhos com seus próprios pensamentos.

E é aí que entra o vazio existencial.


Frankl explicava que o ser humano precisa de um "para quê". Sem isso, até o tempo livre se transforma em peso. As férias deixam de ser um momento de renovação e se tornam um lembrete do quanto estamos perdidos. Por isso muita gente diz, com sinceridade desconcertante: “eu descanso, mas continuo cansado”.

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han também toca nesse ponto em “A Sociedade do Cansaço”. Para ele, vivemos numa época onde o excesso de desempenho nos destrói. Não sabemos mais parar. A mente não desliga. A exigência de produtividade se infiltrou até no lazer: temos que postar, mostrar, parecer felizes e realizados, mesmo no ócio.


Julho, então, nos convida a uma pausa — mas não apenas do trabalho. Uma pausa para pensar. Para se perguntar: “eu sei o que me cansa?” ou pior: “eu sei o que me move?” Se a resposta for não, talvez o descanso não seja o problema, mas o espelho que ele nos entrega.


Essa não é uma matéria para acusar ou ditar regras. É apenas um lembrete. Que talvez as férias sirvam menos para fugir do mundo, e mais para encontrar a si mesmo. E que o tédio, esse incômodo que tentamos evitar a todo custo, pode ser um sinal de que algo precisa mudar. Que talvez esteja na hora de buscar mais do que descanso — está na hora de buscar sentido.

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