O ''Crazy Train'' chegou à última Estação
- Eric Rudhiery Albuquerque

- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Voz inconfundível do rock mundial, o "Príncipe das Trevas" deixa um legado imortal com músicas que moldaram o som e a atitude de gerações inteiras.

Morreu nesta terça-feira (22), aos 76 anos, Ozzy Osbourne, um dos mais lendários nomes da história da música. A causa da morte não foi revelada, mas o cantor britânico enfrentava problemas de saúde há anos, incluindo o diagnóstico de Parkinson em 2019. Ele faleceu cercado pela família.
Nascido John Michael Osbourne em 3 de dezembro de 1948, na cidade operária de Birmingham, na Inglaterra, Ozzy cresceu em meio a dificuldades econômicas, abandonou a escola cedo e se envolveu com pequenos delitos. Foi na juventude conturbada que encontrou na música uma espécie de redenção – e em 1968, ao lado de Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, fundou o Black Sabbath, banda que mudaria para sempre o som do mundo.
Com riffs pesados, letras sombrias e uma estética que desafiava convenções, o Black Sabbath lançou álbuns como Black Sabbath (1970), Paranoid (1970) e Master of Reality (1971), que definiram os fundamentos do heavy metal moderno. Canções como “Paranoid”, “War Pigs” e “Iron Man” são até hoje referências no gênero, presentes em trilhas sonoras, protestos, e no imaginário popular de rebeldia e resistência.
Ozzy era a alma viva do Sabbath: sua voz carregava ao mesmo tempo angústia, fúria e espiritualidade. Sua presença de palco era selvagem, muitas vezes imprevisível – famosa é a ocasião em que mordeu a cabeça de um morcego ao vivo, gesto que se tornou símbolo de sua persona excêntrica e radical.
Em 1979, foi expulso da própria banda por conta dos abusos com drogas e álcool, mas, em vez de desaparecer, ressurgiu mais forte. Com o disco Blizzard of Ozz (1980), iniciou uma carreira solo de enorme sucesso, lançando hinos como “Crazy Train”, “Mr. Crowley” e “No More Tears”.
Nos anos 2000, tornou-se uma figura ainda mais conhecida graças ao reality show The Osbournes, ao lado da esposa Sharon e dos filhos. O programa revelou o lado cômico e humano de uma lenda viva do rock, aproximando-o de um novo público e consolidando sua imagem pop.
Em seus últimos anos, Ozzy conviveu com severos problemas de saúde. Além do Parkinson, passou por diversas cirurgias, fraturas e limitações motoras. Ainda assim, manteve-se em atividade e se apresentou pela última vez em julho de 2025, no festival beneficente “Back to the Beginning”, em sua cidade natal. Sentado em um trono e com o corpo fragilizado, cantou pela última vez diante de 45 mil pessoas. Foi sua despedida.
Ozzy Osbourne não foi apenas um cantor. Foi símbolo de uma geração que ousou romper os padrões, desafiar dogmas e transformar dor em arte. Criou um estilo, um som e uma atitude que inspiraram milhões — de bandas underground a megaestrelas como Metallica, Slipknot e Foo Fighters.
Seu nome está duplamente cravado no Rock and Roll Hall of Fame*, tanto com o Black Sabbath quanto como artista solo. Vendeu mais de 100 milhões de discos e deixou sua marca não apenas na música, mas também na cultura popular, na moda e na maneira como o rock se expressa visualmente até hoje.
A morte de Ozzy representa o fim de uma era, mas não o fim de sua influência. O heavy metal que ele ajudou a criar segue vivo, pulsante, ressoando nos fones de ouvido de adolescentes do mundo todo. Em tempos de superficialidade, ele nos lembrou que a arte verdadeira nasce do caos, da dor e da autenticidade.
E como ele mesmo cantava:
“I’m going off the rails on a crazy train” – e talvez o trem mais louco da história do rock agora tenha finalmente chegado à estação final.




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