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O verde que cheira a diesel

  • Foto do escritor:  Eric Rudhiery Albuquerque
    Eric Rudhiery Albuquerque
  • 12 de nov.
  • 2 min de leitura

Belém foi apresentada ao mundo como a “capital da esperança verde”. A COP30 prometia ser o evento que redefiniria o futuro climático da humanidade.

Mas o que se viu nas margens do Guajará foi uma mistura de maquiagem urbana, caos logístico e contradição política, um espetáculo que escancarou a distância entre discurso e prática.


Durante meses, o governo local se apressou em “embelezar” Belém. Fachadas foram pintadas, avenidas ganharam palmeiras, outdoors exibiam slogans sobre sustentabilidade.

Mas, longe das câmeras, o cenário era outro: falta de água em diversos bairros, acúmulo de lixo, e transporte público em colapso, um retrato de abandono que nem a melhor tinta conseguiu esconder.


Enquanto as autoridades se preparavam para receber o mundo, moradores enfrentavam racionamento e ruas esburacadas.

A reportagem do Le Monde revelou que, além da precariedade, os preços de hospedagem dispararam para até 4 mil euros por noite, tornando quase impossível a presença de delegações de países pobres ou ONGs ambientais.


A promessa de reunir as maiores potências do planeta virou frustração.

De acordo com a ABC News, líderes dos Estados Unidos, China, Índia e Rússia não compareceram à conferência, enviando apenas representantes secundários.

A ausência das principais nações emissoras de gases de efeito estufa esvaziou o peso político do encontro, transformando a COP30 em uma espécie de palco simbólico, repleto de discursos genéricos e resultados previsíveis.


O episódio mais simbólico da incoerência foi a derrubada de área de mata nativa para construir uma estrada de acesso ao local da conferência.

O evento que prometia proteger a Amazônia começou, ironicamente, destruindo parte dela.

Moradores e ambientalistas locais denunciaram que obras emergenciais foram aceleradas sem licenciamento adequado, expondo o contraste entre o discurso ecológico e a prática governamental.


Outro símbolo da contradição foi revelado durante o evento: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva hospedou-se em um barco movido a diesel, ancorado próximo à área principal da COP30.

Enquanto os líderes discursavam sobre transição energética, o próprio anfitrião descansava sobre motores fósseis.

A imprensa internacional destacou o episódio como um retrato da hipocrisia política brasileira.

A Associated Press noticiou que “o contraste entre as promessas de neutralidade de carbono e a realidade logística da COP30 foi evidente a cada detalhe”.


Além da falta de estrutura, o evento foi marcado por altos custos e exclusão social.

A Reuters informou que até as Nações Unidas realizaram reuniões emergenciais para discutir os “custos exorbitantes de acomodação”, que ameaçavam inviabilizar a participação igualitária de países em desenvolvimento.

O Le Monde Diplomatique reforçou que a situação revela a permanência de uma “visão colonial” sobre a Amazônia, tratada como cenário, não como território vivo.


A COP30 terminou sem grandes acordos, sem presença expressiva e sem resultados mensuráveis.

O que deveria ser o marco da nova era verde virou um símbolo do desgaste moral do ambientalismo político.


Enquanto se discursava sobre justiça climática, a cidade enfrentava falta de água.

Enquanto se falava em proteger a floresta, as máquinas abriam caminho no meio da mata.

Enquanto se pregava energia limpa, o presidente dormia sobre um barco a diesel.


A COP30 não será lembrada pela salvação do planeta, mas pela confirmação de que a retórica ecológica se tornou um espetáculo vazio.


O clima esquentou e a consciência esfriou.


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