O império que se recusa a morrer
- Eric Rudhiery Albuquerque

- 9 de jul.
- 2 min de leitura

A história da Rússia não termina com a queda do Muro de Berlim. E tampouco com o colapso da União Soviética, em 1991. O que muitos acreditaram ser o fim de uma era foi, na verdade, apenas uma pausa estratégica na ambição imperial de uma nação forjada à base de disciplina militar, espionagem e culto à força.
Hoje, o mundo assiste à reencarnação desse espírito no rosto de Vladimir Putin ''ex-agente'' da KGB, presidente da Federação Russa há mais de duas décadas, e um dos homens mais influentes do século XXI.
Mas como chegamos até aqui?
Em 1985, Mikhail Gorbatchov chegou ao poder tentando reformar o que já estava condenado. Suas políticas de “glasnost” (abertura) e “perestroika” (reestruturação) foram tentativas de modernizar o regime soviético, mas acabaram por acelerar sua derrocada. Em 1991, a União Soviética oficialmente deixava de existir, e 15 novas repúblicas emergiam de suas cinzas, incluindo a Ucrânia.
Nos anos 1990, Boris Yeltsin assumiu a presidência da nova Federação Russa. Seu governo, marcado por caos econômico, corrupção e fraqueza internacional, deixou um vácuo de poder e identidade. Foi nesse cenário que um homem silencioso e calculista, vindo das sombras da espionagem soviética, começou a ganhar espaço: Vladimir Putin.
Indicado por Yeltsin como primeiro-ministro e, logo depois, seu sucessor, Putin assumiu o Kremlin em 2000. Desde então, construiu um regime cada vez mais centralizado, autoritário e guiado por uma missão clara: restaurar a grandeza russa, nem que isso custe guerras, sanções ou isolamento global.
Putin não é apenas um político. Ele é um símbolo de algo muito mais antigo: a mentalidade imperial russa. Em muitos aspectos, lembra Stálin pela frieza estratégica, pelo controle da mídia e pela repressão a opositores. Em outros, evoca os antigos czares, com sua crença em um destino messiânico da Rússia como guardiã da civilização ortodoxa e inimiga do Ocidente decadente.
Sua visão do mundo é binária: de um lado, a Rússia forte, espiritual, tradicional. Do outro, o Ocidente fraco, liberal, moralmente corrompido. E a Ucrânia, nesse mapa mental, jamais foi vista como independente, mas como uma extensão natural do território russo, tanto cultural quanto histórico.
Essa lógica é assustadoramente parecida com a da China em relação a Taiwan: uma nação que insiste em existir, mas que os poderosos do continente consideram uma “província rebelde”. O mesmo raciocínio leva Putin a invadir, bombardear e tentar “desnazificar” a Ucrânia, termo usado cinicamente para justificar a dominação.
A guerra na Ucrânia não é apenas sobre fronteiras. É sobre memória, identidade e poder. É a tentativa de Putin de reescrever o século XXI com a tinta do século XX.
Enquanto a Ucrânia resiste com sangue e coragem, o mundo precisa entender que estamos diante de uma luta que vai além da geopolítica. É uma batalha pela verdade histórica, pela liberdade das nações e contra o retorno de um império que se recusa a ser passado.




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