A Lâmpada está apagada?
- Eric Rudhiery Albuquerque

- 28 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de jun.

Resolvi escrever sobre o que eu entendo como o fracasso silencioso de continuar, mesmo tendo desistido por dentro. Não falo da desistência visível, aquela que vem com anúncio oficial e despedida nas redes sociais. Falo daquela mais perigosa: a que acontece aos poucos, com a gente ainda em movimento, ainda publicando, ainda sorrindo, mas sem vida por trás do gesto.
Essa semana, numa conversa simples, alguém me falou algo que acendeu uma luz. Daquelas que não iluminam tudo de repente, mas deixam a sombra visível. E desde então, ando pensando em coisas do passado. Coisas simples. Um projeto, uma ideia, um plano bobo talvez — mas que, na época, me tirava o sono de empolgação. Me fazia acordar mais cedo, ou as vezes, nem dormir.
Hoje, nem me importo mais com algumas dessas coisas. E o pior: não percebi o momento exato em que parei de me importar. Fui esfriando devagar, e com o tempo tratei com desdém aquilo que um dia foi fogo dentro de mim. Não teve um rompimento, só um distanciamento silencioso. E quando dei por mim, já tinha virado alguém que executa tarefas que antes eram sonhos.
Escrevo isso não por tristeza — ainda tenho motivos de alegria, e sei que você que me lê também tem os seus. Mas é um alerta. Uma lembrança. Uma conversa que talvez você esteja adiando com você mesmo.
Tem muita gente por aí ainda cumprindo função, ainda parecendo animado, mas por dentro apagado. E isso não é vida. Isso é algo mecânico. É sobrevivência emocional. É como uma lâmpada que ainda acende, mas que perdeu o calor da primeira luz.
Me preocupa esse cansaço disfarçado de maturidade. Essa lucidez que, na verdade, é só medo vestido de bom senso. Vejo pessoas incríveis, inteligentes, sensíveis, vivendo no modo automático. Já não se desafiam, não criam, não ousam. Não é que estejam mal. Só não estão mais vivos naquilo que fazem.
Se você se reconhece nisso, essa coluna é pra você.
É um pedido meu: não precisa voltar com tudo, nem mudar sua vida de um dia pro outro. Mas pelo menos olhe com carinho para aquilo que você deixou de lado. O texto que não terminou. A arte que não praticou mais. O curso que abandonou. O sonho que virou piada pra vc mesmo.
Não espere um grande sinal. Às vezes, basta lembrar o quanto aquilo já te fez bem. E tentar mais uma vez, mesmo com medo, mesmo cansado. Demorei 32 anos (quase 33) pra perceber isso.
Não podemos viver contando os dias como se a vida estivesse em fase de espera. Não podemos chegar na velhice lamentando o que já era possível fazer agora. Errado não é tentar e falhar. Errado é se convencer de que tanto faz.
Como diz o professor Clóvis de Barros, “a vida que vale a pena ser vivida” é aquela em que a gente se sente parte do que faz — mesmo que seja pouco, mesmo que seja simples, mesmo que ninguém veja.
Então, volte. Recomece.
Às vezes, o que parece apagado, só está esperando um pouco de atenção para reacender.




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