Bahia financia bolsas de medicina em Cuba e reacende debate sobre enviar estudantes para um país ditatorial sem padrão internacional de ensino
- Giovana Cáceres

- 18 de nov.
- 3 min de leitura
Com investimento superior a 20 milhões de reais, programa chama atenção pelos critérios e pela escolha de Cuba, país conhecido por falta de liberdade, baixa infraestrutura médica e formação inferior aos padrões internacionais.

O Governo da Bahia anunciou a oferta de 60 bolsas para que jovens de baixa renda estudem medicina em Cuba. O programa, que deve custar aproximadamente 360 mil reais por estudante, soma mais de 20 milhões de reais de recursos públicos destinados a financiar a formação desses alunos na Escola Latino-Americana de Medicina, criada por Fidel Castro em 1999.
O edital prioriza estudantes que estudaram em escola pública e que têm renda familiar de até meio salário mínimo. No entanto, exige critérios que chamam atenção, como possuir passaporte válido, participar de movimentos comunitários ou sociais e assumir compromisso de trabalhar por dois anos no interior da Bahia após a formação.
A escolha por Cuba reacendeu um debate antigo sobre a qualidade do ensino médico oferecido no país e sobre a decisão de o Brasil firmar cooperação educacional com regimes autoritários.
Cuba é classificada por organizações independentes como Freedom House e Human Rights Watch como um país de regime fechado, sem liberdade de imprensa, sem eleições livres e com forte controle estatal sobre todas as áreas, inclusive universidades e hospitais.
A falta de liberdade acadêmica e a ausência de autonomia profissional fazem com que a formação médica cubana seja questionada há décadas.
Apesar de Cuba afirmar ter tradição em medicina comunitária, diversos estudos e relatos apontam problemas graves na formação:
Médicos não têm autonomia para solicitar exames ou fazer diagnósticos fora do que o governo determina.
Hospitais cubanos sofrem com falta de medicamentos, insumos, equipamentos e UTIs.
A formação prática é limitada, o que prejudica a experiência clínica.
Muitos médicos cubanos têm dificuldade em ser aprovados em exames internacionais, como o Revalida no Brasil.
Países como Estados Unidos, Canadá, Espanha e Chile já registraram casos de baixa qualidade no atendimento prestado por médicos formados no modelo cubano.
Esses fatores colocam Cuba atrás de países que possuem sistemas de ensino reconhecidos globalmente, como Estados Unidos, Canadá, Portugal e até mesmo universidades brasileiras públicas.
O Brasil já enfrentou dificuldades em cooperações anteriores com o governo cubano. No programa Mais Médicos, grande parte do salário que deveria ser destinado aos médicos era retida pelo governo de Cuba, o que levou os Estados Unidos a sancionarem autoridades brasileiras envolvidas no programa por entender que havia financiamento indireto ao regime cubano.
Além disso, médicos cubanos denunciavam condições de trabalho próximas à escravidão, sem liberdade de permanecer no país ou trabalhar de forma independente.
Especialistas apontam três riscos principais na nova iniciativa da Bahia:
Investir recursos públicos em um país que não segue normas democráticas e possui histórico de violações de direitos humanos.
Custear a formação em um sistema de ensino considerado frágil e sem reconhecimento internacional amplo.
Criar uma geração de estudantes que pode enfrentar dificuldade de validação do diploma e de adaptação ao sistema de saúde brasileiro.
Defensores da medida argumentam que o programa amplia o acesso de jovens pobres ao ensino superior, já que a formação médica no Brasil costuma ser cara e com baixa oferta de vagas.
A medida reacende um debate que mistura educação, política externa e responsabilidade com o dinheiro público. Enquanto parte da sociedade vê a iniciativa como oportunidade social, outra parte questiona por que o Estado está financiando estudos exatamente em um país ditatorial com infraestrutura limitada e qualidade de ensino controversa.




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