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Enquanto o mundo gira torto, a gente tenta ficar de pé...

  • Foto do escritor:  Eric Rudhiery Albuquerque
    Eric Rudhiery Albuquerque
  • 24 de jun.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 30 de jun.


Há quem ainda insista em dizer que o Brasil é o país do futuro. A frase soa bonita, esperançosa até, mas começa a envelhecer mal. O futuro, se é que vem, parece estar preso no trânsito, atolado na burocracia, ou talvez simplesmente tenha desistido de vir.

Não que lá fora esteja melhor. O mundo inteiro anda esquisito — como se estivéssemos todos vivendo uma ressaca coletiva de promessas que nunca se cumpriram.

Eric Rudhiery Albuquerque - Colunista
Eric Rudhiery Albuquerque - Colunista

A tecnologia avança, os discursos se multiplicam, mas a essência continua a mesma: gente perdida tentando se encontrar em meio a um barulho cada vez mais alto.

Nietzsche dizia que aquele que tem um porquê suporta qualquer como. Mas e quando o porquê é soterrado por boletos, timelines e notícias que parecem roteiros de comédia trágica? Vivemos rodeados de fórmulas prontas para tudo: felicidade em sete passos, riqueza em cinco, propósito em três. Como se a vida fosse um aplicativo com tutorial e botão de pular anúncio. Tudo muito prático, muito rápido, muito raso.


O Brasil, por sua vez, parece um meme recorrente. A cada novo escândalo político, a cada novo absurdo institucionalizado, a sensação é de déjà vu. O problema é que ninguém ri mais. Nem o sarcasmo tem dado conta de aliviar o peso de uma realidade que se impõe. E o mais assustador: estamos nos acostumando com isso. O absurdo virou rotina. A indignação virou cansaço. A esperança virou meme.


Talvez por isso o caminho mais sensato hoje seja o da recusa. Recusar o ritmo alucinado, recusar as soluções de prateleira, recusar essa obrigação moderna de estar sempre bem, produtivo, feliz e grato. Há beleza na pausa, há sentido em um domingo sem fazer nada, há dignidade no cansaço honesto de um dia de trabalho. Talvez a resposta esteja nas coisas mais básicas: um café quente, uma conversa real, um abraço que não precisa de legenda.


Não, o mundo não vai mudar tão cedo. Não com os mesmos atores, os mesmos discursos reciclados, os mesmos interesses disfarçados de causas. Mas isso não significa que não podemos fazer algo. Podemos viver com mais verdade. Estudar com mais profundidade. Amar com mais presença. Trabalhar com mais honra. Rejeitar o cinismo como estilo de vida. Valorizar o afeto familiar, o apoio da amizade, a graça de se sentir útil — ou de simplesmente existir.


Viver é isso. Às vezes, apenas chegar em casa e desejar um travesseiro. Às vezes, é doar-se a quem amamos. Às vezes, é levantar mesmo sem vontade. E outras vezes, é simplesmente resistir — com gentileza, com esforço, com um pouco de fé. Viva. Se viva. Viva apesar do mundo. Viva por um mundo melhor. Mesmo que ele ainda esteja em construção.


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